segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Chegou a hora de virar o disco?

Allysson Teotonio

O principal responsável pela derrota de Zé Maranhão na disputa pelo Governo da Paraíba, no primeiro turno da eleição, foi o próprio governador, quando se lançou candidato à reeleição. Não há quem tire isso da minha cabeça. E vou explicar por que faz sentido atribuir a maior parcela de culpa ao próprio candidato.
“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia. Eu não encho mais a casa de alegria”.

Primeiro, é importante lembrar que Zé Maranhão governou a Paraíba por três mandatos e, ao se lançar novamente candidato, tenta governar o Estado pela quarta vez. O eleitor não é eternamente fiel a um candidato – seja aqui ou em qualquer lugar do mundo. Os políticos têm vida útil, como tudo na vida. Ou alguém acha que a popularidade de Lula é eterna?

“Os anos se passaram enquanto eu dormia. E quem eu queria bem me esquecia”.

É verdade que não temos um eleitorado totalmente politizado, que muita gente vota porque vota e que muitos votam sem nenhum discernimento político. Mas também é verdade que o eleitor é suscetível à mudança, porque o simples ato de mudar faz parte da natureza humana. Ou você acha que alguém consegue ouvir o mesmo disco o tempo todo? A alternância de poder é um processo natural apoiada pelo eleitor, mesmo o mais despolitizado.

“Eu não tenho mais a cara que eu tinha. No espelho, essa cara não é minha”.

Com todo respeito ao governador, a verdade é que Zé Maranhão já deu o que tinha de dar – muita gente já não ouve mais seus discos. Ele já deu sua contribuição ao povo paraibano. O momento político vivido no Estado, hoje, aponta para uma mudança. E a oposição tem uma cara nova. Essa tese de que Ricardo não representa o novo, porque se aliou ao PSDB e ao DEM, não cola. É discurso de adversário. O eleitor enxerga em Ricardo uma novidade, sobretudo por causa do modo de governar mostrado em João Pessoa. A prova disso foi o resultado das urnas.

“Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho. A minha barba estava desse tamanho”.

Se não fosse o poder da máquina e seus encantos, que conquistaram prefeitos, lideranças e eleitores, a oposição tinha finalizado o processo eleitoral no primeiro turno – vale ressaltar que apenas 2.700 votos separaram Ricardo Coutinho do Palácio da Redenção, no dia 3 de outubro.

“Será que eu falei o que ninguém ouvia?”.

Foi um erro estratégico do PMDB lançar a candidatura de Zé Maranhão para governador. O prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, era o nome mais forte para disputar o governo contra Ricardo, em 2010. Ele também é uma novidade na política paraibana – embora não tenha demonstrado na prática, à frente da administração da segunda maior cidade paraibana. Veneziano tem potencial eleitoral e poderia incomodar o favoritismo de Ricardo, que deixou a Prefeitura de João Pessoa com quase 80% de aprovação popular.

“Será que escutei o que ninguém dizia?”.

Mas Zé Maranhão preferiu ser candidato e jamais se viu cedendo o posto para outro, mesmo que fosse um companheiro de partido. Preferiu tentar a reeleição e, pela quarta vez, tentar assumir a cadeira de governador, como se não pudesse viver sem ela, como se não existisse outra razão de viver.

“Não vou me adaptar”.

No dia 31 de outubro, o eleitor paraibano volta às urnas para escolher entre o passado e o presente, decidir o futuro da Paraíba e dizer se vira ou não o disco da nossa história.


*As frases entre aspas são versos da música “Não vou me adaptar”, de Arnaldo Antunes.
Artigo publicado no Portal ParlamentoPB (15/10/2010)

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