Tem certos momentos que a rotina da Paraíba me causa espécie. Será que nós não poderíamos ter sido poupados dessa deplorável exploração da religião no fim da campanha eleitoral?
A oposição bradava, antes disso, que estávamos na década de 30 sob o comando de José Maranhão. Era o discurso construído para contrapor as realizações do chefe do executivo em pouco menos de dois anos de gestão.
Com seu silêncio sobre o caso dos panfletos anônimos que acusam o adversário, Ricardo Coutinho (PSB), de ter um pacto com o capiroto, Maranhão conseguiu avançar muito no túnel do tempo e nos levar à Idade Média, não por acaso apelidada de Idade das Trevas. Teria cabido a ele um pronunciamento, uma fala qualquer desautorizando a baixaria que emporcalhou, em todos os sentidos, o Estado que ele quer continuar governando.
Os impressos diabólicos sujaram as ruas e a alma dos paraibanos, cansados de tanta pequenez em suas vidas. Ao invés disso, Maranhão fez como o Ministério Público Eleitoral, Federal e todas as autoridades: só falou quando provocado. No caso do chefe do executivo, quando interpelado nos debates pelo ofendido, ele negou que tivesse participação na campanha difamatória, mas logo engatou um "esclarecimento" sobre ser temente a Deus. Para bom entendedor, é como se apontasse uma diferença na fé em relação a Ricardo Coutinho. Negou, confirmando.
As religiões afrodescententes estão, mais uma vez afrontadas. Obrigados a contribuir involuntaria e dolorosamente para o crescimento do Brasil, os negros até hoje têm que conviver com esse imenso preconceito. Nem mesmo quando precisam do nosso voto - e quem no Brasil não tem sangue negro correndo nas veias? - sabem fingir que nos valorizam.
Não frequento mais o culto de qualquer religião, mas tomo a liberdade de me constranger pelo "vale tudo" instalado na Paraíba. Vale até ameaçar um artista como Marcos Pinto que trabalhava para construir uma escultura, encomendada por uma empresa particular, quando foi ameaçado por uma turba chefiada por um louco como Mário da Cruz.
A que ponto chegamos! Tem gente que se dispõe a ser chefiada por um desvairado personagem esporádico da política rasteira da Paraíba em troca de uma lata de cerveja.
No Twitter, vi vários simpatizantes do PMDB pararem de divulgar as ações de seu candidato por causa da vergonha que a exploração xiita dos panfletos anônimos causou.
Espero que o Jornal Nacional, a BBC de Londres e o New York Times não descubram que na Paraíba a eleição virou a sucursal mais próxima da caça às bruxas. A inquisição revisitada nos renderia um achincalhe mundial.
E tudo isso porque um punhado de gente tem medo de perder o contracheque.
Eu, que não costumo rezar, peço a Deus que perdoe tantos pecados e permita que um dia a Paraíba cresça.
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